Recentemente assisti a
um filme chamado ‘’Um Contratempo’’, disponível na Netflix. O enredo do filme
gira em torno do assassinato da amante do protagonista, que também é suspeito,
o qual contrata uma advogada para ajuda-lo a descobrir o que realmente
aconteceu na cena do crime.
Não irei fazer uma resenha, apesar de recomendar
como um bom passatempo para um fim de noite. O que quero, de fato, é chamar a
atenção para o que, para mim, foi toda a causa e efeito nessa história: a
mentira. Tudo começa com uma mentira sobre o relacionamento do protagonista com
sua amante. Daí em diante, a sucessão de mentiras acaba saindo totalmente do
controle.
Dizem que a mentira tem pernas curtas, mas esquecem de mencionar que
apesar de curtas elas podem ser bem ligeiras e traiçoeiras.
O vicio em mentir pode
ser adquirido tão rápido como qualquer outra droga, com o agravante de que para
este vicio não existem campanhas de conscientização. E no mundo como o de hoje,
onde não podemos contar com a autoconsciência da grande maioria, fica ainda
mais difícil de combater. Já seria bastante desastroso se mentir fosse
resumido apenas ao enganar o outro.
Mas o problema torna-se maior quando a
mentira é criada e vivida como verdade pela mesma pessoa. A falta
de um eu verdadeiro, de famílias estruturadas e de uma educação, no sentido
mais amplo e profundo da palavra, gera pessoas altamente suscetíveis e rasas.
Pessoas que projetam uma imagem mentirosa de si e acreditam com todas as suas
forças nela. Dostoievski já havia feito uma analise disto:
“O principal é não mentir. Quem mente para si mesmo e dá ouvido à sua própria mentira chega a tal extremo que não consegue ver nenhuma verdade em si ou naqueles que o rodeiam e, por conseguinte, perde completamente o respeito por si e pelos outros. (...) Quem mente a si próprio pode ser o primeiro a ofender-se. Às vezes, é tão agradável uma pessoa se ofender, não é verdade? O indivíduo sabe que ninguém o injuriou, que tudo não passa de simples invenção, que ele próprio mentiu e exagerou apenas para criar um quadro, para fazer de um grão uma montanha - sabe tudo e, no entanto, se ofende. Ofende-se a ponto se sentir prazer na ofensa e, desse modo, atinge o verdadeiro ódio...”
É ou não um retrato
fiel dos nossos dias? Ao acreditarem na mentira de si mesmo, não conseguem mais
enxergar verdade em nada. Tudo passou a ser relativo e a depender unicamente do
que eu penso sobre determinada coisa e não o que ela realmente é. Não se nasce
mais homem ou mulher, o sexo biológico pouco importa em mentes onde o que
prevalece é a ‘’identificação’’. Maridos não podem mais serem maridos, precisam
ser uma versão fajuta e fraca, para agradar mulheres envenenadas pelos dogmas
feministas. Hierarquia? Impossível. Nesse jogo de tanto faz somos todos iguais,
ninguém pode ser melhor que ninguém e o resultado disso é que todos terminam igualmente
ruins. Ruas lotadas de personagens que levam suas mentiras até as ultimas
consequências, estragando gerações ano após ano. E não há ofensa maior para
essas pessoas do que ouvirem a verdade. Elas fazem birra, gritam e choram, como
se o absurdo não fosse o contrário.
Quando a mentira vira o
padrão em uma sociedade a verdade torna-se loucura. Assim sendo, aqueles que ousam
mostrá-la só poderiam ser taxados de loucos. Como nos disse Chesterton:
‘’Chegará o dia em que precisaremos provar que a grama é verde’’. E este dia
chegou.
Por: Sabryna Thais
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